Se formos situa-la no seu aspecto politico/ideológico, ai então a coisa desanda um pouco mais, pois além da incompreensão natural, há também a vontade subjetiva a impor a quebra de seu significado real situada no plural, ou seja, As Classes...
Há muita vontade, manifestada por uma ideologia pretensamente “moderna” e, ao mesmo tempo, extremamente conservadora, tentando impor conceitualmente um marco de entendimento da superação do conceito de Classes.
A fluidez da modernidade, da globalização, do acesso (ainda não tão amplo assim) aos meios de comunicação teria, supostamente, superado a divisão de classes, identificada como um conjunto de pessoas que têm a mesma função, os mesmos interesses ou a mesma condição numa sociedade; havendo na modernidade uma pasteurização e coletivização de identificações sociais, não mais existindo identidades definidas por grupos sociais.
Interessante perceber que, de fato, há parcela de razoabilidade na exposição, pois se observa facilmente a coletivização de interesses, a partir de campanhas massivas e midiáticas, onde observamos uma pasteurização de objetividades, sendo a divisão de classes imperceptível ao olho desnudo.
No entanto, indo um pouco mais além da analise superficial, compreendemos através da percepção dos desdobramentos concretos dos acontecimentos, quais são os efeitos dos eventos/acontecimentos “coletivizados” em cada Classe, do ponto de vista de sua inserção ou exclusão social, como totalmente distintos.
Pequemos o caso concreto do volume de denúncias, somente as realizadas pelos órgãos do Ministério Público, estadual ou federal, na área da Saúde.
Com certeza teremos a indignação massiva, coletivizada, assim poderíamos supor rapidamente, em virtude desta “reação indignada” aos constantes escândalos que a imprensa notícia, de que neste tema estaríamos acima da divisão de Classes;
Porem é no desdobramento concreto da situação que encontramos novamente o conceito da Classe, tristemente vivo e pulsando, pois não são todos ou todas os/as indignados(as) que irão estar nos postos de atendimento, nos ambulatórios, nos hospitais públicos, sentindo no próprio corpo, a resultante final dos processos de corrupção denunciada pelos Órgãos do Ministério Público, nas esferas judiciais.
Neste momento, o do RESULTADO, verificamos a divisão das Classes, pois alguns não sentirão os perversos efeitos das sangrias financeiras na área da Saúde, representada, não somente pela malversação dos seus recursos, mas, também, pela constante má-fé dos tais "contingenciamentos orçamentários", retirando verbas já orçadas em atividades mais saudáveis, a fim de compor financeiramente balanços de pagamentos de dividas, verba enviada de forma direta ao sistema banqueiro.
Hoje a denominada Saúde é um organismo que guarda, de forma explicita e direta, inteira relação ao conceito da divisão de Classes, na forma como descrita pelos autores do século passado.
Sendo a Saúde Pública direcionada, demandada, procurada e disponibilizada para a Classe pobre e média, nesta última incluída os que não podem dispor de mecanismos financeiros de sustentação e/ou acesso aos Planos Privados de Saúdes.
A própria ramificação dos Planos Privados impõe aos seus usuários, das classes médias, limites estreitos de utilização de seus recursos, em várias “classes de atendimento”, portanto diferenciando os tratamentos disponibilizados, quer seja no que se refere ao alojamento ou quanto ao acesso a determinado hospital.
Neste eixo, a crise da Saúde Pública é resultante do sucateamento, da falta de investimento, de um gerenciamento voltado a suprir as ausências de tudo que seria efetivamente necessário ao bom funcionamento da sua estrutura.
De forma entristecedora, sem terem vergonha no emprego do uso e abuso de argumentações faláciosas, os “gestores” tentam criar a ilusão de que a “privatização” do sistema supostamente resolveria a questão da Saúde Pública.
No entanto a lógica é inversa, pois o tratamento é eminentemente Classista, onde alguns têm o acesso qualificado e, a outros se impõem o acesso dificultado, em alguns casos inexistente, pela ausência de assistência qualificada e pronta da sua utilização, deverá permanecer ou, como já acontece em outros Estados e Municípios, deve se agravar.
A lógica da privatização, através das Organizações Sociais, é a mesma lógica que impôs o sucateamento de toda a Rede Pública de Saúde no País; vendê-la como uma “solução” é um exercício de má-fé, pois desconsidera o principal, a diferença com que o Poder Politico, atualmente o gestor da administração pública, trata de forma diferenciada as Classes.
Um comentário:
Tudo isso com a falsa informação para a população de que a privatização será melhor para a classe menos favorecida.
"Ah como eles são bandidos"
Postar um comentário