domingo, 30 de dezembro de 2007

E o ano acabou, vai começar um ano novo, será apenas um outro ano?

A cada ano que acaba, ficam sempre as mesmas perguntas abertas...

O que foi que me faltou para que eu tivesse sido feliz?

O que não foi realizado?

De quem foi a culpa? Foi minha? A culpa é dos que me rodeiam?

O que foi que me dispus a fazer no ano que acaba e, não consegui ver concretizado?

Sonhei demais ou apenas não tive coragem de construir no plano do "real" aquilo que divaguei?

Fiz planos além da minha capacidade de realizar ou simplesmente esqueci, por momentos preciosos, que tinha "planos"?

Eu passei o ano ou será que o ano "passou" por mim?

Será que me fiz entender? Será que "eu" me entendi?

E assim o ano que vai apenas sai; não me pede para sair; não me pergunta nada; não me avisa; não escuta os meus reclamos que está muito "acelerado"; não me escuta ao pedir um pouco mais de "tempo"; apenas escorre, minuto a minuto, como num poema de Cassiano Ricardo, apenas se vai... Sem pressa... Sem parar também... em um contínuo estonteante...

Dá para sentir a sua saída; que vibra no interior de meu corpo como uma coisa que "entra", mas o que me entra? O que me invade nesta saída, nesta partida de um ano que se esvai minuto a minuto?

Como posso me sentir mais "cheio" se há uma perca do tempo, de projetos, de vida, de sonhos?

Que sensação é esta que teima em me preencher? Que desejos são estes, tão contraditórios entre si – a vontade de não passar e, a vontade que passe logo - o desejo de reter o tempo e, o desejo de ampliar o tempo.

Mas independentemente de tudo, o tempo passa, o tempo voa e, a cada minuto, tentamos ficar "numa boa"...

Além de olhar para "quase atrás", tentado desvelar os segredos não entendidos do ano que se esvai, tento perscrutar o ano que está "quase na frente", que tarefa enorme!

Será que ainda dou "conta do recado"? Será que ainda vou conseguir ter vontade de entender o que já se passou? Será que ainda vou conseguir tentar-me "esticar" para ver o que o iniciante ano me reserva?

Então é esta a sensação que me vem preencher, me ocupar os espaços vazios, a empurrar os que estão cheios, donde vêm estas sensações, com as quais não lido no meu dia-a-dia?

Percebo em mim uma porção que não cresceu, não amadureceu, que ainda tenta entender as coisas que aconteceram e, tenta estipular, através dos sonhos, os acontecimentos vindouros, descubro-me a fitar, em mim, um alguém que não sou todos os dias dos anos...

É um "menino homem" que carrego, do qual às vezes (por tantas vezes) esqueço; com o qual pouco converso, que vem a mim e me "toma"; é ele que assume o meu corpo, a minha mente, é dele que vem a vontade de "segurar o tempo nas mãos"; é dele a vontade sentida de se projetar no futuro, como um "dominus".

É deste menino, que mora em mim, que reside onde não sei, mas que se faz presente em cada término e, em cada (re)começo; é dele a vontade indomada de "segurar o tempo" e, de "rolar o tempo" ao mesmo instante.

É deste menino, com qual falo tão pouco e, do qual quase nada escuto, o preenchimento de emoções, que brotam aos borbotões, que me enchem o peito de angústia, de medo, de prazer e ansiedade; são deles os olhos, que substituem os meus que pouco enxergam para além, limitados e pobres devido aos meus próprios conceitos.

Quando acaba e quando começa, ele vem a minha superfície; me "brota"; é risonho, permanece manso, não para, a curiosidade lhe arrebata, olha pelos meus olhos, já meio cansados de ver tantas coisas, nem todas me fazem bem; ouve pelos meus ouvidos, vozes e promessas, que já quase não escuto mais, de tão distantes; para ele, que mora em mim e me "visita", é o momento de perceber estas vozes distantes, se tornam tão próximas e límpidas. é através dos seus ouvidos tomados dos meus, que posso ouvi-las mais de perto, como se próximas de mim estivessem.

O menino que mora em mim, do qual me afastei quando fui crescendo, já também tem a minha idade, e, no entanto é tão jovem, ainda ousa sonhar, ainda ousa "segurar o tempo" e, com ele brincar...

O menino que mora em mim, com o qual pouco conversei quando fui crescendo, ainda quer "jogar conversa fora", me falando do futuro, do que vai ainda realizar, dos sonhos, das fantasias, da sua vontade de "rolar pelo tempo", de brincar de “carniça”, pelos anos que vão e, que vem...

Ao se “apossar” de mim, o menino que há dentro do meu ser, me lembra dos anos em que era ele quem me comandava; indo buscar os amigos, indo pegar a bola, indo ao cinema, indo ao parque, ao pique, ao mar e, puxa! Como ele/eu sorria naquele tempo...

Tinha medo, tinha angústia, tinham vontades não satisfeitas, tinham brigas, tinham faltas e ausências que me entristeciam, mas era feliz... eu brincava...

Por que me esqueci deste menino? Por que ao ir amadurecendo, fui deixando-o “mudo”? Como pude esquecê-lo? Por que só o encontro nos momentos de partida e de chegada, nas passagens de ano?

Pelos olhos, que são meus, os quais usa, deste menino que há em mim, leio as perguntas que me faço ao chegar ao final de ano e, posso ouvir a sua risada, com os ouvidos que são meus os quais ele usa; e sinto os meus questionamentos perderem a importância, o significado, a relevância.

Quantos tombos não cai; quantos machucados não tive; quantos sangues já perdi? E daí? Que é que tem? Eu quero continuar a brincar, chamar alguém, vamos jogar, vamos papear, já sarou o machucado, vamos lá, vamos voltar a brincar, não foi nada não! Tá tudo bem!

E me sorri, com a minha boca, com o meu rosto, com os meus olhos...

Sou eu maduro, sorrindo de mim para mim, sou menino tomando maduro, tornando-me novamente um menino, brincando de viver, um pouco a cada dia, segurando o tempo na mão, querendo mais tempo para brincar e, olhando o tempo que ainda não chegou e, já pensando como vai/vou continuar a brincar...

Que esta sensação, de mim menino/homem, não se esvaia, que eu possa a todo o momento, ser maduro e ser menino ao mesmo tempo, que a cada queda possa me lembrar das sensações de quedas já passadas e, de como me levantei, para brincar novamente; que a cada gota de sangue (real ou irreal) que caia dos enfrentamentos, eu possa lhe sentir o gosto, passar um “cuspe” e continuar a brincar.

Um poeta já disse que fomos “feitos para brilhar” e, ficamos, feitos tontos, a procurando o tal do “brilho” por toda uma existência...

Eu não quero ficar “brilhando”, eu quero ficar "brincando"...


Tchau! 2007, Bem-Vindo 2008!

sábado, 15 de dezembro de 2007

Sobre as Estruturas...

A Institucionalidade e os seus reflexos no Movimento Social

Parece-me que a grande questão colocada seria o significado da construção das estruturas organizativas dentro do movimento social, quais funções e as reais atribuições destas estruturas.

A iniciativa de sua construção obedece à necessidade de agrupamentos de interesses individuais se verem representados, a fim de que estes possam serem legitimados na interação social frente à outros grupos de interesses; visando tornar possível uma produção de resultados a partir dos interesses que deram origem àquela estrutura organizativa.

Por este entendimento, já surge uma primeira questão a ser resolvida, trata-se da forma associativa, regulada em nossa legislação; que determina e estabelece para as Associações
parâmetros rígidos de controle, direção e de representação institucional.

Ora, se a estrutura criada se orienta pelos denominados “grupos de interesses” resta claro que os estreitos limites, colocados pela legislação que regula a matéria, irão servir como uma verdadeira “margem de rio” extremamente estreita e excludente.

Haverá sempre pessoas (atores sociais), que têm os mesmos interesses e necessidades, sempre estarão fora dos limites legais e orgânicos desta estruturas legalmente constituídas ; que ao mesmo tempo em que se reconhecem como protagonistas válidos e legitimados a participarem dos processos decisórios destas estruturas, pois estas trabalham e refletem os seus interesses, estarão “à margem” dos limites impostos pela legislação vigente que regula a estrutura legal destas estruturas.

A posição adotada em várias situações é a criação de novas estruturas, a fim de que estes atores sociais não fiquem à margem destes limites; superando o “estar fora” pelo “estar dentro em outra estrutura”, esta atitude por sua vez perpetua a lógica de excluir os que não dentro das margens legais; renovando a necessidade de criação de novas estruturas, visando a existência de um reconhecimento socialmente válido.

Este tipo de comportamento é paradoxal, pois se me sinto representado, se me sinto refletido em uma estrutura ao ponto de, alem dos limites legais imposto pelo Código Civil, intervir propositivamente na sua condução, esta estrutura pode repelir esta contribuição sob o falso argumento de que teria que ser “organizado por dentro dela”, para que este conteúdos de contribuição e de interação possam ser validados.

Em verdade este conceito é profundamente legalista, baseado no texto e na ideologia conservadora do Código Civil, que estipula quem faz parte de uma associação, seu órgão de direção, os seus eleitores, e quem pode ocupá-la, tudo de acordo com os seus estatutos e regimentos internos, devidamente registrados em Cartório de Pessoa Jurídica.

Os parâmetros desta organização estão vinculados à institucionalidade legal; não é da vontade dos agrupamentos de interesses que isto ocorra, esta é a vontade apenas daqueles que institucionalizam a estrutura criada formalmente, sendo refratários à interação com o agrupamento que lhes deu origem, que deveria fazer parte de sua própria essencialidade.

A questão que se coloca é como se dá a dinâmica de interação, entre estas estruturas institucionais com os atores sociais que têm o mesmo nível de interesses, aptidões, desejos e vontades, mas que estão fora dos seus espaços legais, impostos pelo Código Civil.

Frente a este questionamento temos apenas duas vertentes de pensamento e de possibilidade de relacionamento, a saber:

1 – Atitude includente, não limitada pelas “margens” da legalidade estrita do Código Civil.

Agrega todos e todas, independentemente das limitações legais impostas pela legislação em vigor, tais experiências já ocorrem em algumas estruturas organizativas no Movimento Social; como exemplo, poderia citar o Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL), o Movimento Sem Terra (MST); CONLUTAS, SINDSPREVRJ, e muitos outros que permitem a intervenção direta de vários atores sociais em seus fóruns, a partir da comprovação dos reconhecimentos das bandeiras de luta e dos compromissos que estas estruturas levantam e defendem.

2 – Atitude excludente, limitada pelas margens da legalidade estrita do Código Civil.

Agrega apenas aqueles que estão incluídos na forma de seus estatutos, a partir do estipulado, serão considerados como "associados", com os poderes descritos em seus regimentos internos; desnecessário citar exemplos, pois a grande maioria opta por este tipo de estrutura rígida, facilmente controlada pelos seus instituidores, que podem até mesmo regular a entrada de outros postulantes a condição de "associado"; a partir não dos compromissos e bandeiras de luta, mas, também pelos interesses daqueles já associados, que podem vetar a entrada de novos postulantes.

Precisamos enfrentar este debate, qual o tipo de Estrutura a ser persequido?

Necessitamos saber qual é o nível de institucionalidade que melhor permite a participação de todos os atores sociais que têm reconhecimento e compromissos com as bandeiras de lutas para as quais estas estruturas foram criadas.

Como me demoro para chegar até aqui... Quase esqueço do espaço.... Que dificuldade encontro para localizar os caminhos. Penso muito, fal...